quinta-feira, 12 de julho de 2007,00:34
Carta a um amigo
Ola,

como vais? O que tens feito? Há imenso tempo que não te vejo, está tudo bem?

Comigo sim, as coisas vão andando, mas conta-me as novidades. Que se passa de novo na tua vida? Tenho pensado tanto em ti.

Na realidade sinto uma certa tristeza porque sei que devo pensar em ti bastante mais do que pensas em mim. Não, não digo isto chateada.
Apenas triste.
Pela distância que se interpôs entre nós.
Durante tanto tempo fomos dois, sempre juntos, sempre emparelhados. Que agora, apesar de já não ser novidade esta distância, ainda me custa.
Lembro-me várias vezes de nós.
Da cumplicidade, da amizade, da comunhão de ideias e ideais.
Das gargalhadas, das palhaçadas, da sorridente memória da amizade.
Dos telefonemas, dos passeios, das aventuras.
Das descobertas que fizémos em conjunto à medida que fomos transpondo marcos importantes no crescimento de qualquer adolescente ou jovem. Da forma como partilhávamos experiências que ambos passámos mais ou menos na mesma altura, da forma como desabafávamos um com o outro e parecia que havia sempre coisas a dizer.

Sinceramente, há coisas na vida que damos por garantidas...e tu eras uma delas. Nunca me passou pela cabeça que aos 40, 50 anos não continuássemos amigos, em contacto, unidos...quase irmãos. Mais que muitos irmãos. Mas a vida é mesmo uma caixinha de surpresas e pregou-me esta rasteira. Pouco a pouco a distância foi chegando. A distância, as ideias em desacordo, os ideais em oposição. Chegou a idade adulta e deparei-me com alguém que via a vida com olhos tão diferentes dos meus, que foram um dia nossos. Começou a haver cada vez menos para contar, cada vez menos para partilhar, cada vez menos descobertas em comum. A distância tornou-se inevitável. Mudaste. Provávelmente dirás o mesmo de mim. É natural, não posso negar que provávelmente aos teus olhos também já não sou a mesma. E nem me apercebi que mudava à luz dos teus olhos claros. Mas apesar de claros sentia que iam ficando frios. Endureceste. Talvez tenha sido a vida que te endureceu. Eu ainda não. Mas é provável que um dia fique assim. Talvez ai nos aproximemos de novo. Mas agora não. O afastamento ainda não está completo. Porque ainda penso em ti frequentemente. Haverá um dia em que o teu nome será uma suave recordação. E a tristeza será mais familiar, mais instalada. Fará parte do som com que ecoa o teu nome.
Chegará o dia em que seremos estranhos.
Talvez depois desse dia nos reencontremos na rua e decidamos tomar um café. Aqueles cafés que adoramos. Talvez nesse dia a conversa volte a fluir e as novidades, mesmo triviais, sejam tantas que a emoção se apodere de nós e nos esqueçamos do que eramos e do que fomos.
Talvez nesse dia te mostre esta carta.
Até lá desejo-te o melhor do melhor. Que sejas feliz. Que reencontres o sorriso genuino.
Que te voltes a abrir ao mundo porque lhe fazes falta, acredita.
Poder-me-ia despedir de muitas maneiras mas apenas quero dizer

Até um dia.
 
Por SDR
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