sábado, 7 de julho de 2007,17:18
Se eu fosse uma parede

Se eu pudesse ser uma parede... direita, alta, sem falhas.
Se eu pudesse ser uma parede... forte, impenetrável, sempre presente e sempre invisível.
Se eu pudesse ser uma parede, apoiar-te-ia. Poderias encostar-te a mim e esconder-te do resto do mundo. Eu não te julgaria. Não te perguntaria o que se passa, não te daria conselhos, bem intencionados mas inúteis.
Se eu pudesse ser uma parede, estaria sempre . Ouvir-te-ia sempre sem nunca murmurar uma palavra. Poderias bater os teus punhos contra mim sempre que sentisses que o mundo se fecha em teu redor, te sufoca.
Poderias chorar, de raiva, de medo, de tristeza ou saudade. Poderias gritar bem alto, exprimir o teu sofrimento sem te sentires observado, julgado, em dívida de atitudes ou explicações. Apenas eu estaria lá. E eu seria só uma parede. Direita, alta, sem falhas. Mas quebrada por dentro a cada lágrima tua que caisse em mim. Forte, impenetrável, sempre presente mas sempre sempre tão invisível para ti. Faria parte do teu mundo, rodear-te-ia, proteger-te-ia, não deixaria que ninguém te visse se não quisesses ser visto. Seria o teu abrigo, o teu refúgio.
Se pudesse prenderia a respiração ao sentir o teu corpo encostado a mim, quente contra frio, macio contra duro, e fecharia os olhos. Passarias as tuas mãos por mim em busca de respostas que tens guardadas dentro de ti e eu sentir-me-ia desfalecer.
Nesse momento desejaria poder murmurar uma só palavra que ecoaria para sempre dentro de mim: "Amo-te".
Nesse momento desejaria não ser alta, nem direita, nem sem falhas.
Desejaria não ser forte, impenetrável e sempre mas sempre invisível.
Desejaria ser emoção, sentimento, carne.
Desejaria sair da parede para dentro dos teus braços.
 
Por SDR
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