sábado, 7 de julho de 2007,17:40
Do outro lado...[Parte I]
Há dias como este em que me sinto duas. Em que me sinto diferente de mim. Em que me sinto a viver num corpo emprestado, numa vida emprestada. Em que me sinto destinada a viver outra vida que estou a adiar.

Há dias assim. Em que algo que parece viver adormecido dentro de mim desperta. E grita por se sentir enjaulado, camuflado, enterrado. Desperta e quer-me fazer despertar também. Não sei bem o que acorda de vez em quando. Não sei bem que subtis detalhes despoletam o seu acordar. Um olhar, uma história, uma recordação. E tudo se torna um rebuliço cá dentro. Serão vidas passadas que não chegaram a ficar no passado? Parece loucura, nem consigo justificar o que me leva a pensar nisto.

Mas há dias assim. Em que sinto que eu não sou Eu de verdade e que a minha vida é um livro fechado que não consigo abrir e decifrar.

Redescubro a liberdade de escrever. Sempre foram as palavras que me fizeram sentir livre, livre. E aos poucos redescubro o prazer de pegar na caneta e deixar a tinta escorrer ao sabor dos meus sentimentos. Escrevo sem pensar no que escrevo. Concentro-me no que sinto. E sinto que ninguém me conhece de facto, nem mesmo eu.

Todos têm uma ideia de mim mas ninguém faz ideia de quem sou.
De que há dias assim.
Em que me transformo...ou me revelo?

Há dias assim. Em que a chuva está prestes a cair mas nunca mais cai. Apenas ameaça. Olhamos pró céu e vemos no concílio de nuvens que se juntam que estão prestes a chover. Mas a intenção nunca mais se concretiza. Como os meus sentimentos que se acumulam sem encontrarem a razão para transbordar.

Há dias assim. Em que sei que estou acordada. E acordada sinto que devia estar a sonhar.
Lisboa, 01 de Julho de 2007
 
Por SDR
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