terça-feira, 22 de julho de 2008,11:29
Náufragos
Às vezes sofrer é um mal necessário. Estupida da pessoa que nos diz isto quando estamos a sofrer mas é mesmo. E então sofrer por amor é quase obrigatório para uma mulher. Porque nos faz crescer, porque nos faz ficar mais conscientes daquilo que queremos e porque a chorar nos faz admitir que não nos podemos contentar com algo que nos deixa incompletas.

A sensação de vazio é algo de quase indescritivel...mas a sensação de que para alcançar a perfeição nos faltou "aquele bocadinho assim" ...não sei o que é pior... não sei o que aperta mais o coração. Mas serve para reflectir. Serve para cair e sentir que aguentamos a queda e muito mais.

Serve acima de tudo para chegar à conclusão que não nos podemos contentar com amar alguém por muito que o nosso amor seja do tamanho do sol; para que o puzzle encaixe na perfeição esse alguém tem de nos amar também... é essa a luz da lua.
Chora. Grita. Houve música que te faça chorar e gritar ainda mais. Parte uma ou duas peças que aches horrivel, é uma boa oportunidade. Olha para o mar. Escreve, sente tudo a transbordar, a transbordar como uma onde enorme que cresce cá dentro e vai colapsar no papel.

E chora mais um pouco. Porque é um cliché...mas lava mesmo a alma.
E quando estiveres pronta...enche o peito de ar e rema de novo.


Este post é dedicado a uma amiga.
 
sábado, 19 de julho de 2008,20:26
High Expectations

É muito peso para seres tão pequeninos como nós.
Todos nos julgam adultos, todos menos nós.
Nós continuamos a sentir-nos jovens meninas, cheias de ideias e ideais, parte deles impraticáveis, parte deles que acabam por se tornar desinteressantes assim que chegamos à conclusão que são praticáveis.

É muito peso para seres tão pequeninos como nós.
Não há treino que nos prepare para o peso de uma decisão exclusivamente nossa.
Não há pratica que nos prepare para a selecção das palavras certas; depende da hora, depende do género, depende do tempo, depende da nossa própria disposição, depende de quanto estão os nossos sentimentos à flor da pele.

Deixa-me embalar o mar...canta alguém conhecido no meu ouvido. Na realidade o que eu queria mesmo era alguém que me embalasse a mim. Que me tirasse este peso horrivel dos ombros que me impede de respirar como respirava noutros tempos. Que me tratasse como uma menina e não me deixasse pensar em nada; sim, inacreditável, uma mulher de 30 anos, financeiramente independente a pedir para ser tratada como uma boneca oca.
Pois estou.
E admito-o abertamente. O cansaço é mais que cansaço, é opressão...não te deixa dormir sem pensares frenéticamente em todas as 1001 coisas que tens de tratar amanhã, e depois da amanhã e na semana seguinte e no mês que lhe segue.

Tenho tantas coisas em que me pensar que já me esqueci de mim. Hoje, ridiculamente sinto que precisava de tirar tempo para me voltar a descobrir. Sinto que cresci e que não fui tomando nota das mudanças que se operaram e agora acordo todos os dias com a pessoa que me é mais intima e também com aquela que me é mais estranha.
E ter a sensação que outros te conhecem melhor que tu não é reconfortante, diga-se o que se disser...é sinal que nos estamos a ignorar há demasiado tempo.

É muito peso para seres pequeninos como nós.
E as nossas expectativas em nós próprias também foram crescendo progressivamente até que agora estão prestes a ser impossivel de alcançar.
Sinto que se afastam cada vez mais das minhas mãos...não deveria ser ao contrário? Não deveriam estar cada vez mais ao meu alcance?

Nalgum lugar perdido...deixei ficar as ideias que faziam de mim o que fui e o que sonhava ser. Tudo para aguentar um peso que ainda não estava preparada para carregar.

Mais dia menos dia vou deixar cair todos estes pesos inuteis ao chão e dedicar-me a ir à procura daquelas ideias que me coloriam...
 
segunda-feira, 14 de julho de 2008,23:25
Ao som de um piano
Eu não sou muito dada a musica...ou melhor, gosto dela mas ela não vai assim muito com a minha cara.
Tolera-me, dá-me pequenos prazeres como ouvir uma combinação de certas notas e sentir um arrepio na espinha ou uma lágrima a espreitar de mansinho ao canto do meu olho, mas nunca me deixou ir para além disso. Nunca me deixou partilhá-la, ser capaz de criar por mim combinações que me provocam sensações ou sequer perceber porque é que certas combinações me alteram cá dentro e outras me deixam indiferente. É assim a música para mim...como um amante incerto, que te dá prazer mas não te deixa permanecer, nem entrar dentro dele.

E ainda assim a música sossega-me, serena-me, obriga-me a descansar de mim mesma.
Como por exemplo agora.

Agora, sim, neste exacto momento. Esforço-me por respirar fundo enquanto me concentro no som de um piano solitário que parece que está a falar só para mim. Compreender o que ele diz não compreendo, mas consigo imaginar o que ele me diria. Consigo respirar fundo e perder-me neste som. Porque às vezes precisamos de nos deixar ir... sem saber onde vamos, tal como eu nunca sei para onde uma música vai. Mas só o facto de a seguir me dá uma certa paz, como abandonarmo-nos nos braços de alguém em quem confiamos e dizer "vou para onde fores, mas não fico onde não estiveres.

E enquanto este piano me embala, as minhas mãos divagam no teclado e permitem-me o doce prazer de deitar cá para fora parte da minha alma, parte, só parte...shiuuuuu porque outra parte nem eu sei onde anda, nem sei que caminhos percorre...

As minhas mãos divagam neste teclado como as de um pianista que acaricia as teclas preciosas da sua arte. Que ousadia a minha esta comparação. Mas em termos de prazer deve ser muito parecido. Esta sensação de inspirar fundo, não pensar em nada e deixar que as letras se conjuguem, se combinem e formem palavras e que as palavras conheçam outras palavras e se encontrem em frases. Que como qualquer relação na vida, às vezes resultam numa boa combinação e outras vezes não...é assim


É nestes momentos em que a música me subjuga, me faz pensar que alguém consegue efectivamente transpor sonhos em pauta que acredito que um dia farei o mesmo mas em páginas brancas. Eventualmente serão transparentes para alguns e de multiplas cores para outros. Mas a música nestes momentos leva-me a sonhar...nem eu sei bem com o quê, mas faz-me sorrir. A melodia embala-me, o som dos meus dedos no teclado marca um compasso descompassado, ora acelerado e frenético ora pausado e inseguro ...é ai que sinto que os sonhos me escapam, como a areia nos escorre por entre os dedos se apertarmos demasiado as mãos.

O truque é nunca agarrar nada demasiado, nunca fechar demasiado as mãos. Mantê-las semi abertas, como quem se presta a receber algo que possa vir de repente mas não como quem pede por algo que tarda em chegar.


Esta melodia está prestes a terminar e os meus dedos começam a abrandar o ritmo...as palavras já estão reunidas por hoje, já tiveram algo para falar e se calhar muito pouco a dizer. Eu desabafei no pouco ou nada que elas disseram. É esse o poder da música e da escrita ...nunca nos obriga a dizer mais do que queremos e no entanto deixa-nos expor o coração e alma por completo quando precisamos.

Obrigada música por estas notas...sejam elas quais forem. Trouxeram-me paz.Em troca, recebe as sensações que elas me transmitiram e que se transformaram nestas palavras.