sábado, 7 de julho de 2007,17:57
Do outro lado...[Parte II]
Passaram dez, doze anos. E no entanto parece que não passou tempo nenhum. Continuo sentada à mesa de um café, com uma caneta numa mão, um cigarro na outra e uma folha em branco à minha frente. Os cafés foram mudando, as canetas também. Os cadernos cheios de frases indecifráveis amontoam-se na minha cave e até a marca dos cigarros é diferente. Mas nada mudou. Será que alguma vez vai mudar? Será que alguma vez vou deixar de sentir que há outra pessoa dentro de mim? Será que daqui a dez anos ainda estarei aqui? Ou terá o meu espírito finalmente sossegado, resignado a não despertar emoções que não podem ter qualquer explicação. Será este tumulto enfurecido um eco do aproximar de mais um aniversário? Será só a minha alma a querer que a vidade me arrebate e me faça voar? Há dias assim em que me sinto dominada por recordações distantes que não consigo esquecer...nem lembrar. Estarei a viver uma ilusão? Estarei a enganar-me a mim própria dizendo que esta vida não é aquela a que estou destinada? O ecoar longínquo, tão longínquo de memórias. Sei que estão lá, têm de estar. De onde vêm não sei, nem sei se algum dia conseguirei explicar a mim mesma porque há dias assim.
Dias em que prefiro mergulhar no sonho. Reencontrar-me nas histórias dos outros, na vida dos outros. Pensada, imaginada, sonhada. Uma outra vida. Que passa por mim e não consigo agarrar.
Há dias assim. Em que sinto que devia fugir de mim mesma e começar tudo de novo. Atirar tudo ao ar e fazer todas as loucuras. Baixas as máscaras, as defesas, os medos, os SEs...e fugir, fugir, correr até não saber onde estou. E só aí me poderia voltar a encontrar.

Há dias assim...
Lisboa, 01 Julho de 2007
 
Por SDR
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