sábado, 17 de novembro de 2007,02:01
Dear John

como já alguém te disse a vida continua. Continua a passar, a girar, a acontecer. Os dias sucedem-se e as noites ... as noites servem para pensar. O Natal está a chegar mais uma vez. Mais um Inverno prestes a bater à porta. As gentes transbordam pelas ruas, já apressadas nas compras de Natal. Laços, sacos, embrulhos e laços decoram as ruas, os carros, as casas. O frio já chegou para nos lembrar que nem sempre nos sentimos quentes por dentro.
E é nestes momentos que me perco da minha paz. Escrevo-te na esperança que me digas onde a perdi. Normalmente tens sempre algum conselho sensato que me apazigue. Que me poderás dizer desta vez?
Sabes, há dias em que penso muito no coelho da Alice. E neste altura em que todo o mundo desperta para o rebuliço do Natal, nesta altura o coelho da Alice volta a fazer parte dos meus pensamentos. Com o seu relógio de corrente sempre a alertá-lo para o tempo que passa e ele sempre a correr. Nunca ninguém soube para onde corria. Nem ele provavelmente. Acho que é por isso que penso tanto nele nestes momentos. Porque quando perco a minha paz também eu sinto que corro sem meta. Não sei onde fica o final do caminho. E sinto que corro, que perco o folêgo, que corro desesperadamente atrás de algo que não descortino. E o maldito relógio sempre a lembrar-me que luto contra ele, tic-tac, tic-tac, tic-tac.
É tão injusto ter um prazo para cumprir um objectivo indefinido.
Preciso de encontrá-la. A paz que perco nestas noites em claro. Não amigo, a vida continua. Nada permanece na mesma e não te posso confessar que respostas procuro.
Porque ainda não consegui elaborar as perguntas. Só te consigo dizer que não me revejo nas gentes que passam, e os sons atravessam-me sem deixarem eco cá dentro. Às vezes penso que passeio invisivel pelas ruas da cidade. E digo-te...não é um sentimento desagradável.
Nessas alturas, sinto que o tempo é todo meu e não ouço relógio algum.