segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009,16:33
A Caixa

Ontem levei-a finalmente para nossa casa.
Olhando para ela ninguém diria tudo o que contém, mas o tempo não é mensurável no espaço.

No outro dia ouvi uma teoria sobre homens e mulheres que envolvia algo como "os homens tem o cérebro repartido em caixas, cada uma com a sua função distinta e tem inclusive uma caixa de NADA".

Esta, pelo contrário, é a minha caixa de TUDO. Guarda tudo o que sonhei e se realizou, tudo o que sonhei e nunca chegou a ser. Tudo o que desejei e alcançei e também tudo o que desejei e perdi de vista. Guarda memórias, sentimentos, sensações, passado. Guarda fantasias que acabei por concretizar e outras que acabaram por se desvanecer do meu caminho. Guarda sucessos e também falhanços. Os maiores obstáculos que transpus e os maiores obstáculos que me fizeram desviar da rota original. Seria a rota original ou o obstáculo sempre devia ter lá estado?

Guarda ainda todas as lágrimas que não pude chorar e todos os sorrisos que tive de contar.
É quente e fria ao mesmo tempo, sólida e frágil, pequena e gigantesca.

Não a abro há anos. E não a quis abrir desta vez. Mudei-a de sítio, levei-a para ao pé de mim porque não suporto pensar que está longe, fora do meu alcance. Não suporto pensar que de um momento para o outro posso querer abri-la, trocar recordações com ela e não o poder fazer.

Por isso a trouxe comigo e lhe arranjei um lugar tranquilo onde permanecer.
Mas não a abri.
Minto.

Abri-a rápidamente para olhar para um amontoado de papéis e de fotos, como que querendo confirmar que nada se tinha evaporado e num segundo tive a certeza que ainda estava tudo lá. O essência a emoções fortes envolveu-me de imediato. E não quero mergulhar nelas porque tudo tem o seu tempo. E este é o tempo de guardar a caixa fechada.

Com o tempo terei eventualmente oportunidade de a abrir e viajar com ela para outros tempos, onde eu era eu antes e não eu hoje. Haverá semelhanças e haverá com certeza incompreensão. Haverá gargalhadas, sorrisos e inevitávelmente lágrimas. Haverá viagens no tempo e no espaço e revisitar de "e ses" tantas e tantas vezes reflectidos. Com o tempo terei oportunidade de fazer tudo isto.
Mas ainda não é esse tempo.

É tempo de guardar a caixa e mantê-la fechada - abri-la apenas para guardar mais registos que não quero perder mas que escolho não lembrar no presente.

Mas para já, fechada está bem.
Os meus olhos precisam de mais tempo para decifrar que o passado já ficou para trás e para conseguir distinguir entre o presente e o futuro mais provável.

 
Por SDR
outras viagens... ¤