sexta-feira, 10 de outubro de 2008,10:44
Vôos incertos

Retomo o papel e a caneta ou melhor o word e o teclado:)
Relembro-me da serena satisfação de abrir a porta a palavras guardadas a sete chaves
Sorrio secretamente pois não sei bem o sentido que elas tem ou deveriam ter…apenas gosto de as ver livres num página em branco, seja ela física ou digital. Mas guardo com saudade a ideia de deixar vaguear pelo papel o bico de uma caneta, a sensação de acariciar as folhas com a palma da mão à medida que vão ficando preenchidas, como um cego que lê os relevos das palavras com a ponta dos dedos e se apercebe de histórias que mais ninguém vê.

E é nestas alturas que me pergunto se os caminhos percorridos foram os mais correctos, se me faltou a coragem para os saltos mais arriscados. Se perdi oportunidades que não voltarão a surgir. Se me tornei naquilo que esperavam e não naquilo que sonhava ser.
Isto é o que ouço sussurrar ao meu ouvido esquerdo, baixinho, num tom malicioso mas preocupado, num tom que pretende instalar a dúvida e que por vezes consegue os seus objectivos.
Mas de repente ao meu ouvido direito ouço quase num murmúrio, uma voz mais doce que me repete as mil e uma escolhas que surgem em cada encruzilhada, que me perdoa por acreditar nas palavras que surgem vindas da esquerda, que me pede para acreditar, não nela…mas em mim.
Essa voz nem sempre ganha a batalha de argumentos mas gera Força. E diz-me que tudo é possível seja onde e quando for. Que as escolhas que passaram não são mais que lições aprendidas e que existem muito mais lições para aprender. Que posso repetir tudo mil e uma vezes mais até acertar. Que a fronteira entre o certo e o errado é ténue e depende do milésimo de segundo em que uma decisão é tomada, que depende de tantas variáveis que nem o maior super computador do mundo poderia suportar a equação que decidiria acertadamente em 100% dos casos.
Definitivamente não sou um super computador. Nem queria ser…às vezes errar leva a surpresas inesperadas mas agradáveis.
Nem quero um mapa que me leve a casa.
Quero explorar os diferentes caminhos que me surgem a cada dia que passa.

Mas primeiro preciso de um mapa que me leve a mim.

Gastei tanto tempo a pensar em mil e uma coisas que não precisavam de ser pensadas que me esqueci que existo. Sei que existo. Porque respiro. Mas perdi a capacidade de respirar fundo porque já não sei chegar ao fundo de mim. Ainda cá estou, a vozinha da direita não me deixa esquecer disso. Mas preciso de uma demonstração matemática que o comprove. Porque o tempo às vezes voa mesmo e consegue apagar pegadas que pensávamos estar já gravadas na pedra. Há que gravar tudo de novo. Talvez de forma diferente, talvez exactamente da mesma forma.

É aquele milésimo de segundo que vai decidir.
E nesse momento vou ficar surda à voz do meu lado esquerdo e redescobrir o prazer de sorrir sem peso. Porque nada lava mais a alma que a leveza de um sorriso perfeito, vindo do fundo do tempo.

"O silêncio deixa-me ileso
e que importância tem...
Se assim, tu vês em mim,
alguém melhor que alguém
Sei que minto,
pois o que sinto,
não é diferente...
de ti, não cedo
este segredo
é frágil e é meu.
Eu não sei
tanto sobre tanta coisa
que às vezes tenho medo
de dizer aquelas coisas
que fazem chorar
Quem te disse
coisas tristes
não era igual a mim,
sim, eu sei, que choro
mas eu posso
querer diferente para ti.
E não me perguntes nada
que eu não sei dizer..."
 
Por SDR
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